sábado, 29 de agosto de 2009

que pena...



quando nao faz diferenca...

o orgulho suplanta o amor, o cotidiano revira a memoria e os momentos restam no passado


quando nao faz diferenca...

o perdao eh humilhante, a saudade eh um instante e qualquer ser é o sufciente


quando nao faz diferenca...

a razao eh mais que o afeto, provacao do que nem sempre eh certo... sentimento baseado em concreto fragil


erros nao perdoados, silencio a longo prazo...

só aumenta minha crença que, pra voce,

nao faz diferenca.


(que pena...)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Minha casa.

Durante mais de 15 anos eu morei na mesma casa. E à medida que o tempo ia passando, ela ia mudando com a gente...

A principio era um quarto amarelo e azul, com estampas florais e camas de solteiro. Um balanco, feito por mim, pendia de um dos galhos do imenso ingazeiro que sombreava a faixada... a rua era duas maos, e o caminho até a escola mais curto.

A arvore foi cortada, dada a necessidade de fazer uma nova garagem... meu balanco, pro lixo.

O quarto do meu irmao era pequeno, mas era o mais divertido e cheio de coisas. Era como um esconderijo, voce entrava e andava de lado entre a cama e o movel (que, acreditem, existia!) abarrotado de eletronicos, caixas de som, novidades, etc. As prateleiras eram rebeldes, tomada por livros e objetos, sempre acertavam a testa de alguem...

A rua virou mao unica, em direcao a rua recife. Dar carona pros cativos ficou um pouco mais complicado, mas o pouco movimento na via permitia algumas "barbeiragens".

O quarto de hospedes abrigou muita gente, até chegar minha vó... e ai, era o quarto da vovó! Todos os outros ambientes (fora o quarto do meu irmao) eram bem mais amplos, mas alguma coisa sempre nos levava a ficar amontoados lá dentro...

A casa toda cheirava a madeira... era ventilada e tinha uma das melhores vistas da cidade.
Foi palco para festas, cenario para filmes e o nosso lar.

Em um dado momento resolvemos reformar; meu quarto passou para lilás, cama de casal, closet espacoso e cara de adolescente... meu irmao mudou do cubículo para um espacoso loft com entrada independente... mamãe ganhou mais espaco para as roupas e papai menos bagunça.

Enfim, resolvemos fazer a piscina... Nossos domingos ficaram mais coloridos e cheios de vida. Papai colocava a melhor trilha sonora pro momento, gidô trazia kibe e outras delicias, e fechava o almoco com uma maravilhosa sobremesa da vovó...

Minha mae adorava o jardim. Molhar as plantas, plantar as plantas, colher as plantas... era o toque de tanto amor que dava vida àquele lugar.

Nosso canto comecou a virar o canto de muita gente... e começou o pesadelo.

Primeira obra; do predio atras... ouviamos tudo, do toque de entrar, de almoco, de volta, de sair e de hora extra. Furadeira, serra, martelo, caminhoes, poeira, alergia, dor de cabeca e furia... Foram sei lá quantos anos até ele ficar pronto, e bem em cima da nossa privacidade. Mas, pelo menos, dormir e respirar era possível.

Quando pensamos que nossos problemas tinham acabado, o vizinho da esquerda vende a casa e, pra nossa "alegria", iam construir um predio no local...

Ok, ok... a gente aguentou um, o que seria outro...?

Foi entao que o vizinho da direita se rendeu as propostas e ali, pasmem, seria mais um predio!

Choviam propostas para comprar nossa casa, mas ela era parte da gente... e a gente dela.

O transito já havia mudado completamente... de pouco movimentada, virou via de acesso. Eu passava meia-hora vendo o portao da minha casa, mas impossibilitada de chegar até lá... e quando iamos entrar, ainda recebiamos buzinadas raivosas e gestos desagradaveis... por vezes até cheguei a ouvir alguns gritos, mas pode ter sido só impressão.

Foi quando resolveram construir o viaduto que demos a martelada final... era impossível continuar lá.

Assim que assinaram o contrato de venda, os novos "donos" nos enxotaram de lá... nos deram tempo recorde pra sair e encontrar qualquer outro lugar, que nao aquele, para nos abrigar.

Saimos, entao, às pressas... sem despedidas, como sem-terras maltrapilhos.

Colocamos tudo que tinhamos dentro de caixas, carros, caminhoes... e partimos sem olhar para tras. Ela, sem a gente, nao era mais a mesma... uma carcaça, um esqueleto, um corpo sem alma... estava morta.

Foi assim que ela passou de lar a escombros... de jardim a concreto... de amor a dinheiro.







quinta-feira, 27 de agosto de 2009

luzinha.




Nossa distancia pode ser medida pelo tempo, pelo espaco e pela saudade. Nos levaram quase 10 anos da convivencia... mas quem?

Não dá pra realmente dizer o que aconteceu. Em que momento deixamos as nossas mochilas e uniformes, para nos transformarmos no "oi" ocasional.

Depois de uma confusão e algumas revelações (estarrecedoras, eu acrecento)... [re]encontrei a companhia ideal. Musicas, conversas, ares... e "aquela" cutucada no sentimento dorminhoco.

As vezes tenho vontade de entrar no meu delorean, voltar correndo no tempo e retomar tudo isso que perdemos... mas, e como?

Das brincadeiras (nem tanto) infantis, frio na barriga de e-mails ansiosos... fui parar na luzinha do seu celular, um pisca-pisca alucinante, lista infinita de nadas meus... mas de certo sou uma parte do teu sorriso de lado.

Rumo? pra que...? qualquer direção é a certa... o importante é "nao abandonar o time".

Minhas olheiras não escondem a luta contra o sono, só por mais algumas horas, ou mesmo minutos ... tenho tanta coisa pra mostrar, dividir, ver.

Companhia, amizade e sintonia...

A saudade é imediata. Corro pro computador... abro minha caixa e volto a ser sua luzinha (pisca, pisca).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Chuva de patos

Não lembro de nada que me tenha sido tao engracado quanto ver idealizado uma "chuva de patos"... lembro de estar assistindo um dos meus desenhos (atuais) favoritos, com uma das minhas companhias favoritas, numas das minhas situacoes favoritas...

Aquilo me soou fantastico... tantas coisas pra passar pela cabeca, a imagem de chuva de patos era incrivelmente improvavel... Nada melhor pra desejar, nao? coisas impossiveis...

Eu ri por dias, se nao meses... Toda e qualquer ocasiao era o suficiente para me remeter aquela cena. Alegria atrai alegria...

Nao importa muito o tamanho da alegria, o que importa é o quanto voce a sente... Alegrias pequenininhas podem fazer cócegas no nosso esofago, e nos fazer sorrir, escondido, com o canto da boca... sozinho... num café. Grandes alegrias podem nos nocautear imediatamente e depois... viram lapsos.

A alegria anda com a tristeza... pq só uma pra nos provar que tivemos a outra... ou que somos capazes, de fato, de te-la algum dia.

É o supiro mais profundo e a lealdade mais oculta.
Voce se diz desistir e desacreditar dela, mas vive procurando esse ser; feliz...

Certo que a felicidade é aquele momento, ali... voce vive e, de repente, ela vai embora. Voce esquece tudo aquilo que um dia coloriu, tudo é pastel e sem gosto.

Tudo é num instante, preciso. Desejar ser feliz eternamente é utópico, entao... eu desejo chuva de patos!




sexta-feira, 21 de agosto de 2009

meu espelho.

eu nasci um bebe estranho... bochechas protuberantes e cabelos rebeldes. Cresci ao lado de um irmao lindo, que atraia todas as atencoes apesar dos lacos estrambolicos na minha cabeca.

Minhas amigas eram todas bem "ajeitadinhas", em especial uma meia-prima, loira de olhos azuis, que parava qualquer transito. Enquanto eu ainda estava no meu cabelo chanel que nao crescia devido aos caixos insistentes...

Formatura do ABC ninguem barrava meu vestido, mas quem conseguia tirar os olhos dos meus dentes que cresciam sem direcao?

Durante meu primeiro grau tive lutas diarias e frustradas com os encriquilhados revoltados que nao tinha gel que desse jeito... fora os pelos que já eram exacerbados (imaginem quando eu entrei na puberdade).

Fui morar nos Estados Unidos, onde eu era novidade... nao apenas por ser procedente de outro pais, mas por ser mais morena que 97% da turma. Pouco depois chegaram os novos vizinhos brasileiros, eram 3 irmaos (2 menino e 1 menina). Ela era linda, alta e de cabelos perfeitos. Eu mignon, os cabelos continuavam no mesmo formato desagradavel e estava longe de ser linda com tantos ferros e borrachas na minha boca de apenas 8 anos.

Quando retornei tomei um susto... minhas amigas haviam crescido e eu nao me encaixava mais naquela turma. Elas eram adolescentes e eu ainda uma crianca desgrenhada.

Entao, o pesadelo da puberdade... eu era o proprio primo "it" da familia addams. Coberta de pelos, gracas a minha descendencia arabe (orgulhosamente, muito obrigada). Com os quais tinha que conviver pois depilar era o mesmo que arrancar os pelos de chow-chow... a cera fria!

O primeiro menino que pediu pra namorar comigo, numa festinha da escolha... se revelou gay algum tempo depois. Enquanto todas as minhas amigas falavam de namorados e ficantes, eu pensava em correr pra casa pra assistir castelo rá-tim-bum e brincar com as minhas barbies.

Aos quinze anos ja nao usava mais aparelho, meu cabelo parecia estar tomando jeito e ja era elogiada pelo meu sorriso.

Aos dezoito, meninos (homens) mais velhos ja comecavam a me notar.

Aos vinte já me considerava mulher, apesar de nao pensar como tal. Com vinte e um veio minha primeira grande crise... uma tristeza sem fim e uma escuridao absoluta. Por um mes, nao tirei meu pijama e tinha medo de fechar os olhos sozinha.

Mais 3 se seguiram depois dessa até que eu aprendesse como nao me deixar cair tao fundo.

Hoje, com 25, ainda me sinto a mesma menina de cabelos assanhados e extra-oral. Nao me sinto mais bonita e nem mais interessante, mas essa sou eu... minha imagem, nesse espelho meu.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Desprezo

"o desprezo", dizem, "é o melhor remédio."

Bem, na minha concepcao, remedio bom é aquele que a gente toma e fica logo boa. Desprezo pra mim, é sangria. Literalmente sangrar todo o sentimento, na dor crua do corte em carne fresca...

Técnicas ultrapassadas e sem efeito.

Ou um corpo canceroso que retorce na dor e grita por meros paliativos, ignorando qualquer possibilidade de cura... sabendo a morte iminente. Debil e indefeso.

Se é pra desprezar... eu desprezo. Ou melhor, mascaro o que de fato é, encubro e desfaco todas as minhas vontades e, assim, preparo o terreno pra esquecer. Porque ninguem realmente acredita que, de uma hora pra outra, devido a uma "sumidinha", tudo muda...

A verdade é que amigos e familiares nunca sabem exatamente o que dizer pra voce "se tocar". Nao adianta, por mais que tentem, dizer pra esquecer, deixar pra lá ou cair na real...

De fato é uma bela conduta; homeopática, eu diria... de gota em gota, doses diarias e repetidas, voce vai se desapegando, já que uma das formulas do desprezo é demonstrar indiferenca. Chato é quando nao faz diferenca...

A distancia vai falhando a memoria... a saudade vai ficando difusa e, de repente, voce despreza...




sábado, 8 de agosto de 2009

Dia dos pais

pra vc que eh pai,
já é um todo mais completo, e um muito mais metade.
É o amor absurdo e a responsabilidade constante...

é enlouquecer com os gritinhos, musiquinhas, pedidos e tolices,
mas morrer por cada minuto longe.

É uma hitória com continuidade... uma marca. Teu pequeno registro.
Toda grandeza que tua natureza pode promover, na simplicidade de apenas ali estar...

Construcao diaria, trabalho em andamento... todo dia uma lição,
tanto pra um quanto pra outro!
O aprendizado no olho, no abraço, na razão...

É o maior medo do mundo;
De crescer, de sofrer, de perder...

Notalgia em cada movimento.
Nunca perceber que já não são tão pequenos.

Pai é eternidade...
calculo impossivel
dimensao indeterminada

É reconhecer que o sorriso...
é o mesmo de quando era nenem.

pai é um privilégio
de quem é e de quem tem.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Copos de alumínio

Fazia tempo que eu não tomava água num daqueles copos de alumínio...

Quando sede pede um copo d'água bem gelado, a garganta pulsa numa peristalse seca... na hora que bate na superficie metálica do copinho; o esbranquicado crescente... no primeiro gole, quando toca o copo, já sente a frieza do material e o liquido refrescante em perfeita combinação...

saciedade e nostalgia...

Essa sensação é exatamente a mesma de quando, na casa do meu avô querido, eu tomava agua num desses copos. Ele guardava, estrategicamente, dentro do freezer... brilhante!!

É dificil explicar uma coisa que foi sensação ... uma forma do teu corpo responder à um estímulo. Mas a verdade é que o sentimento de satisfação vem sempre acompanhado da nítida lembrança dele... dos momentos mais simples da nossa convivencia. Da sintonia dos olhares surrealmente sorridentes...

Era o copo dele, no lugar dele (congelando), como tudo dele era no lugar dele. Qualquer desvio, qualquer falha, seria notado. A lucidez mais insana que já pude vivenciar... sabia de tudo, qualquer assunto. Era de uma dureza incrivel e uma sensibilidade admirável...

Métodos eram muitos... ler a bíblia todos os dias, andando pelo corredor e cruzando com a unha o salmos que já haviam sido lidos. Banhos demorados. Leite de rosas. Leituras cotidianas e programadas.
A telvisão era toda previamente planejada, horarios definidos. O lanche era no horario do jornal, o volume era no mais alto e a atencao redobrada no que era dito. Passava a mesma quantidade de requeijão (colocado na borda do prato) nos mesmos sanduiches grelhado com queijo por cima... colocando a mesma quantidade de nescáfe, com a mesma colher, na mesma quantidade de leite.

Na hora de dormir o meu colchão era colocado do lado da cama deles. Pra eu nao passar nenhum minuto longe... eu adorava o cheiro da madeira no quarto, a luz fraca vinda do lado dele e o lencol fininho que me bastava aquecida... Me lembro de muitas vezes lutar contra o sono pra ficar observando, por baixo da cama, o amarelo-opaco que provinha só daquela direita do quarto... e ouvia minha vó ressonar, com o braço por cima dos olhos...

Até hoje me pergunto o que ele viu em mim... de onde vinha tanto amor se tudo que ele conheceu foi a minha parte quando eu nao sabia valoriza-lo devidamente... que hoje, tantas coisa eu queria mostrar e dividir e perguntar. Me descontrola o peito pensar que perdi tempo... que muitas vezes ele quis me mostrar, me ensinar... mas a ingenuidade me fechava qualquer entrada para o tudo que ele podia me passar...

Eu podia ter aprendido muito mais... por tudo que ele foi pra mim!

Ele foi meus passos de dança, bochechas coladas e meus sonhos no colo. Foi os assobios afinados e o bom gosto musical. Foi os filmes antigos bem explicados. Os gritos furiosos com o futebol...

Sei que ele podia me fazer melhor, se eu pudesse mostrar o que eu sou...

Eu só queria que tivesse sobrado mais tempo pra aprender a ser mais como voce, vô.

Mas pelo menos uma coisa eu aprendi... o meu copo de alumínio vai ficar no congelador!

manaus, manaus

O manauense é um povinho complicado. De tudo arranja um motivo pra reclamar...

Se chove, reza a Deus pra parar de chover. Se faz Sol, procura o diabo pra culpar pelo inferno.

Amanheceu mais nublado? pode contar que metade da população sai de jaqueta, pullovers e afins, manda desligar o ar-condicionado da sala porque ta "frio"... e quando dá onze horas ta todo mundo de manga enrolada e se abanando.

Sem contar que tudo fazem se arrastando, não importa o quanto estamos pagando pelos serviços, sempre parece que estão nos fazendo um favor. Chego até a ficar constrangida!!

Os mais regionais são os mais intrigantes, porque além de todos os aparatos que um bom manauense detém, ainda vem com uns "extras", originais de fábrica...
É fácil identificar, todo caboco vero tem a voz anasalada, sua mais que o normal e pra qualquer lugar que ele vá apontar ele utiliza o lábio inferior.
E ainda insistem em dizer que são "manauara"... até o shopping nomearam assim!

Uma das patologias mais populares entre essa espécie é a falta de senso do ridículo... não é nada difícil ver modelitos microscópicos em corpos macro +10. Quisera eu ter tanta auto-confiança...

Justiça seja feita. Não podemos negar que é um povo que sabe se divertir... Ora! Há algo mais maravilhoso do que ir à ponta negra num domingo, com um magnifico carro "tunado", uma churrasqueira portátil, sunguinha e barrigão de cerveja de fora?
Lógico que a poluição sonora de diversos tipos de forró/boi/axé (tocando ao mesmo tempo) passa batido ao se deparar com mulheres espetaculares passando blondor em pleno calçadão... uma beleza!

É... o sol é mais quente que o usual, o clima palpavelmente úmido... mas nos rende dias lindos, com céus em tons de azuis diferentes a cada momento e um por-do-sol de dar inveja a muito europeu azedo...

Do rio eu tenho medo... sabe-se lá o que não existe naquela escuridão. Mas é inegAvelmente deslumbrante e (os desabrigados que me perdoem) ainda mais nas cheias.

Eu não AMO Manaus, tão pouco tenho ciúmes... mas, enquanto nao consegui me desgarrar, vou tirando proveito das peculiaridades... de uma forma ou de outra!